domingo, 8 de julho de 2012

Geografia das indústrias - INTENSIVO

As atividades econômicas podem ser divididas principalmente sem 3 setores. São eles: setor primário, que corresponde a agricultura e as atividades de extrativismo; setor secundário, que corresponde a indústria e a todo o processo de industrialização; e setor terciário, que corresponde ao comércio e aos serviços, setor predominante nas grandes cidades. Na aula de hoje, falaremos um pouco sobre o segundo setor.

O desenvolvimento do capitalismo está profundamente relacionado ao processo de industrialização. Sem a indústria, as sociedades teriam uma capacidade muito limitada de transformar a natureza, e não haveria o próprio processo de urbanização e massificação do consumo e dos costumes que existem atualmente. A industrialização deslocou o eixo de poder do campo pra cidade.

Entretanto, a indústria não surgiu na forma da fábrica como a conhecemos hoje. Antes disso, a produção de bens e a transformação da natureza era feita a partir do artesanato e da manufatura. Apesar de hoje considerarmos que vivemos numa sociedade industrial, a industrialização ocorreu de forma diferenciada no tempo e no espaço geográfico. Na primeira Revolução Industrial, por exemplo, as indústrias se localizavam próximas às bacias carboníferas britânicas, pois o custo de se transportar a energia era alto. O quadro abaixo sintetiza os principais fatores que podem modificar a localização das indústrias.

Fatores locacionais
matérias-primas
fontes de energia
mão-de-obra de baixa qualificação (baixa remuneração)
mão-de-obra muito qualificada
mercado consumidor
infraestrutura de transporte
rede de telecomunicações
incentivos fiscais
disponibilidade de água

Importante notar que todos os fatores de localização das indústrias estão ligados a diminuição dos custos de produção, ou seja, são fatores de ordem econômica, além de espacial. Cada setor industrial é influenciado por cada fator de forma diferenciada. Para isso, veremos como isso ocorreu de forma diferenciada no tempo.

A primeira revolução industrial foi marcada pela criação da máquina a vapor (1769) e sua aplicação dentro das fábricas, que facilitava o fornecimento de energia e a produção de mercadorias em menor tempo. Além disso, a máquina a vapor também foi aplicada aos meios de transporte, ampliando as possibilidades de interligação a lugares mais distantes e favorecendo a comunicação. As indústrias eram localizadas próximas às fontes de energia e de matéria-prima, o que favoreceu ainda mais o crescimento de algumas cidades.

É também na primeira revolução industrial que é introduzido em larga escala o trabalho assalariado, em oposição ao trabalho servil ou escravo. O pensador Karl Marx, no século XIX, que foi o responsável por desvendar porque o regime assalariado era a relação de trabalho mais adequada ao capitalismo, quando criou o conceito de mais-valia. A toda jornada de trabalho corresponde uma remuneração, que permitirá a subsistência do trabalhador. No entanto, o trabalhador produz um valor a mais do que recebe na forma de salário, e a quantidade de trabalho não-pago permanece em poder dos proprietários das fábricas, lojas, fazendas, minas, etc. Através da mais-valia que os capitalistas podem lucrar.

A segunda revolução industrial surge com a diversificação das tecnologias e de formas de se obter energia, passando pra eletricidade e pro petróleo. As indústrias de bens de consumo passaram a se instalar próximas ao mercado consumidor, mesmo que estivessem longe da fonte de energia ou matéria-prima. Também nesta fase que ocorre o grande crescimento da indústria de bens de produção, como a siderurgia, metalurgia e indústria química. Essas indústrias fabricavam produtos que seriam utilizados como matéria-prima de outras fábricas. As indústrias de bens de capital, que produziam máquinas, equipamentos e peças para outros setores, também se expandiram nessa época.

Dentro da fábrica, o trabalho realizado se tornava cada vez mais especializado. Isso quer dizer que o processo produtivo de fabricação das mercadorias se subdividia em várias etapas, desempenhado por vários trabalhadores em diversas funções. Era comum haver a figura do gerente, uma espécie de fiscal do trabalho. Esse processo também foi responsável pela criação da divisão social do trabalho, pois cada ocupação tinha uma remuneração diferenciada.

No início do século XX, os Estados Unidos já se tornava uma grande potência industrial, superando a Ingleterra. O economista norte-americano Frederick Taylor criou uma nova forma de organização do trabalho dentro das indústrias, fenômeno que ficou conhecido como Taylorismo. Segundo ele, o tempo e os movimentos dos operários deveriam ser intensamente controlados para aumentar a produtividade, a divisão das atividades dentro da fábrica deveria ser feita de forma mais especializada e repetitiva e as atividades administrativas e executivas deveriam ser realizadas por outros funcionários. Posteriormente, um outro norte-americano, Henry Ford, introduziu esteiras rolantes nas linhas de montagem dos automóveis de sua fábrica, aumentando ainda mais a produtividade. Por isso, essa especialização do trabalho ficou conhecido como Fordismo.

Ao mesmo tempo que havia uma especialização da produção no interior das fábricas, a população passava a crescer ainda mais fora delas. Ford percebeu, então, que para ter mais lucro, seu modo de produção em massa deveria ser transferido para o consumo em massa da sociedade. Para tanto, era necessário aumentar os salários dos trabalhadores para que eles pudessem consumir os bens que produziam dentro das fábricas. Os EUA passam a ser a primeira sociedade de consumo de massa, quando várias mercadorias se tornaram acessíveis à população em geral, instaurando o american way of life. Para facilitar a implementação da lógica fordista de produção em massa e consumo em massa, era necessário padronizar ao máximo os produtos. Assim, a Ford fabricava o mesmo modelo de carro nos Estados Unidos e na Europa, ainda que os dois mercados tivessem necessidades distintas.

O fordismo também transformou enormemente a organização do espaço geográfico dos países industrializados. Era necessário que as demais indústrias que produziam peças e componentes dos automóveis se localizassem próximas a indústria automobilística, o que gerou uma intensa concentração industrial (economia de aglomeração). Esse padrão de produção, consumo e organização espacial se expande para os países europeus a partir do fim da Primeira Guerra Mundial, mas a Crise de 29 colocou em xeque os riscos da superprodução de mercadorias.

Com a Terceira Revolução Industrial, o espaço geográfico passa por uma nova reconfiguração, acompanhado pela reorganização da produção e do consumo. Conhecido como pós-fordismo ou toyotismo, o novo sistema tinha como objetivo aumentar os ganhos de produtividade através da maior exploração da mão-de-obra do trabalhador. Assim, o toyotismo implementou o sistema just-in-time, ou seja, haveria uma grande sintonia entre os fornecedores de matéria-prima, os produtores e os compradores, onde se produziria apenas a quantidade de mercadorias que se fosse consumir, sem desperdícios.

Além do risco da superprodução, o pós-fordismo permitiu a flexibilização industrial para atender às exigências de diferentes mercados consumidores. O avanço da tecnologia fazia com que vários produtos que eram produzidos no sistema fordista ficassem obsoletos rapidamente, com prejuízo para o fabricante. O pós-fordismo readaptou as linhas de montagem das fábricas, para que não fosse necessário criar uma nova fábrica a cada novo desenvolvimento tecnológico.

A atual etapa do capitalismo é marcada por uma profunda desconcentração industrial e descentralização do capital. Enquanto as redes de transportes e telecomunicações das grandes metrópoles estão saturadas, observamos um deslocamento das indústrias para longe dos centros urbanos desenvolvidos. Enquanto as indústrias que necessitam de alta tecnologia buscam a proximidade de universidades ou centros de pesquisa, desenvolvendo tecnopolos, as indústrias de baixa tecnologia procuram áreas onde a legislação trabalhista ou ambiental é mais flexível e os salários são menores. A globalização eliminou as barreiras dos transportes e das comunicações a nível global e as indústrias certamente foram muito beneficiadas com esse processo.

4 comentários: